Tetein
(Ian Ramil)
oi!
posso passar o dia olhando vocês
às vezes do nada desligo da sala ou do papo de alguém
mas sigo ali, só viajei
posso passar o dia viajando em vocês
tudo tudo
tudo tão bem
falta nada
falta ninguém
que preguiça
do vai-e-vem
vou ficar
por aqui
viajando mais
só um tetein
nada de fake
foda-se o like
intimidade é bem maior
vem cá vem cá vem cá
vem cá vem cá vem
dá pra ver
e cheirar
e ouvir
e tocar
aquecer
levitar
dá pra desaparecer
ressurgir na voz de alguém
ou ficar viajando mais
só um tetein
oi!
Canção de Chapeuzinho Vermelho
(Braguinha e Francisco Mignone)
contente
ela mora longe
o caminho é deserto
e o lobo-mau passeia aqui por perto
mas…
Macho-Rey
(Ian Ramil / Juliana Cortes)
la vem o tiozão, o macho-rey
rastando havaianas pelo chão
sorriso asa de avião
discursa descarga de caminhão
quem vê não diz que ele arrepia o corpo todo sempre que ouve meu som
adora piada de negro e gay
de peito inflado, faraó
corrente de ouro à luz do sol
roçando a camisa de futebol
quem vê não diz que ele se achou um nada quando leu Eliane Brum
seja homem
não
de terno ele vira o superman
sinhô charqueada, don juan
parcão, padre chagas, com os fã
planalto ele é só mais um do clã
quem vê não diz que ele se encolhe e chora sempre que a mami lhe diz um não
seja homem
não
Cantiga de Nina
(Ian Ramil)
quando aparecer o sol
e a tristeza se encolher
toda hora é de brincar
todo dia pra correr
mas agora deixa o sono vir
que é hora de recarregar
passarinho canta por não saber
que essa luz é o poste que dá
O Mundo é meu país
(Ian Ramil / Luiz Gabriel Lopes)
o mundo é meu país
e toda história é minha história
todo lado é de cá
girar, girar,
não tenho a menor pressa de encontrar
a incerteza é uma glória
tem gente barco sem pra onde ir
tem gente maquininha de sofrer
tem gente onda, gente avatar
e toda gente minha mente teima em tatuar
no corpo
o mundo é meu país
e toda história é minha história
todo lado é de cá
girar, girar,
não tenho a menor pressa de encontrar
a incerteza é uma glória
todo mundo é luz e sombra
na orquestra dos faróis
todo mundo é luz e sombra
todos nós
girar, girar
Lego Efeito Manada
(Ian Ramil / Poty Burch)
nesse lugar que eu inventei
nada vai nos machucar
perto daqui
homens de bens
erguem no ar seus metais
devoram homens
praças, favelas
animais
digam, porque desenvolver se o envolvimento traz paz?
só deus salva, alguém vai vir dizer
mas é o dono de deus que faz sofrer
revolução
impedir os arranha-céu
de cortar a paisagem
gelar a passagem
cadê a viagem? me leva!
quero voar, lavrar o chão
ver a mãe plantar erva
ver a Terra liberta
na evolução
quando eu me for
quero deixar
algo pra te avivar
revolução
ocupar os arranha-céu
enxergar a paisagem
abrir a passagem
o fim da viagem ta vindo
e é lindo aceitar um não
errar e não ver o próprio erro
é o aterro da evolução
quem vai colher o que se plantar?
quem vai colher?
quem?
Mil Pares
(Ian Ramil)
serei mil pares de pernas dançando em roda, em volta, em roda, em volta, em roda
assistindo o shopping center queimar
quando a publicidade morrer e desintoxicar a felicidade
e a cidade respirar o fluxo da terra, sem vaidade
tornando-se o tempo inevitavelmente lento
rebento do vácuo e do ócio
e do saudável entendimento da necessidade de enxada diária e pessoal na enxurrada de informações da rede social
quando o medo der lugar ao carnaval
e a empatia desbancar o capital
quando o justo julgamento der mais tesão que o linchamento
quando o óleo não mais precisar ser arrancado e refinado pra mover o carro do playboy
que tendo em pó o seu status quo, não terá mais camaro ou empregado pra rebaixar
e no facebook, cheio de ouro no look, será visto como dodói e não herói quando ostentar
serei mil pares de pernas dançando em roda, em volta, em roda, em volta, em roda
assistindo o shopping center queimar
quando o abraço atravessar as camisetas brancas dos brancos brandos
ex-cegos de um olho só,
não mais formos egoístas com nossos privilégios nós
e não mais banalizarmos
até esvaziarmos
o significado
do amor
e quando em consequência disso tudo a grana ficar em segundo plano, com o óbito do ágio miliciano das grandes corporações
nesse ano, o oceano humano superará as questões de gênero, social e racial
e a justiça da mulher do negro e do índio tomará de assalto a nave espacial
serei mil pares de pernas dançando em roda, em volta, em roda, em volta, em roda
assistindo o shopping center queimar
eu digo
toda pressão represada entre os ombros do meu cotidiano voará e cairá sobre o palácio dos vampiros do comando
serei mil pares
em roda, em volta, em roda, em volta, em roda
assistindo o shopping center queimar
O Bichinho
(Ian Ramil)
o bichinho
começou pelo coração
passarinho
pulsando em ultrassom
me faz lembrar o quão bonita é
a vida surge, cresce e esquece de entender que tudo tudo é sempre primeira vez
ai ai ai bruxinha
onze dezesseis
rapidinha
nos transformou em três
eu vi uma cachoeira sair
seguindo teu corpinho a caminho do ar da terra que alvorava ansiosa por ti
Nina rua o pensamento ave, máquina extraordinária
cinza, azul, castanho, vista luminária
minha menina
não é de ninguém
dia após dia
ela vai entendendo isso também
Teletransporte
(Ian Ramil)
bem daqui, esse som me transporta pra 96
vejo a vó gargalhar, ouço as conversas de vocês
vem tão viva a sensação
sinto tua mão
tanto faz, tanto faz, se eu quiser achar que tanto faz
mas é são se aninhar, encostar no que ficou pra trás
vem tão viva a sensação
sinto tua mão
quando a tarde me faz deslizar
entre o sono, o sons e a luz do sol
posso me desmaterializar
habitar o tempo sem estar aqui
ou lá
vem tão viva a sensação
sinto tua mão
Palavras-vão
(Ian Ramil)
não fala agora
, não
se concreta a sensação
palavras
-vão
Homem-bomba
(Poty Burch / Ian Ramil)
homem-bomba chegando
automóveis mudando de lugar
automóveis voando
corpos se dissolvendo em pleno ar
é qualquer coisa celular
celulares filmando
é qualquer coisa celular
celulares vibrando
é quaquer coisa celular
viralizar
virar o rosto
é qualquer coisa celular
é descartar
comprar de novo
é qualquer coisa celular
(é um drone voando)
é viciar
(sem aviso chegando a um não lugar)
é qualquer coisa celular
(anticristo rezando)
se empanturrar
(corpos se dissolvendo em pleno lar)
é qualquer coisa celular
Cantiga de Nina II
(Ian Ramil)
quando aparecer o sol
e a tristeza se encolher
toda hora é de brincar
todo dia pra correr
mas agora deixa o sono vir
que é hora de recarregar
passarinho canta por não saber
que essa luz é o poste que dá